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O triângulo da Psicanálise: Corpo e Violência

A atividade promovida pela OCAL serviu para demonstrar quão rica será as discussões do Pré Congresso OCAL a ser realizado em Cartagena de India, em 13 e 14 de Setembro de 2016 e terá por tema: ?Corpos: Diversidades, Trans/Formaciones & Fronteiras. Essa afirmação está embasada na vivência da Jornada OCAL: O Triângulo da Psicanálise – Corpo e violência, pois essa atividade imprimiu a criatividade como marca ao estimular as trocas das vivências e experiências adquiridas entre os candidatos do México, Perú e Brasil.

O evento revelou que vale o esforço de ousar na medida em que as três sedes sustentaram um diálogo fértil, dentro de um campo virtual, em que as diferenças de lingua e cultura serviram de estofo para o exercício de escuta e de teorização sobre a prática do psicanalista quando se ocupa de seu ofício no consultório e fora dele. Afinal, a violência precisa ser entendida dentro de um contexto social, histórico e subjetivo.

Na abertura dos trabalhos ocorreu uma breve apresentação de Juan Pinetta (Coordenador e Editor de OCAL), Patricia Infante (Presidente de OCAL), Leonardo Siqueira Araújo (Presidente Electo da IPSO) e Helder Pinheiro (Presidente da ABC).

As apresentações dos trabalhos demostraram uma qualidade inquestionável. Iniciando a apresentação dos candidatos de Guadalara, Paola Lugo nos brindou com o texto "Tiempos violentos dando lastro a uma reflexão sobre o poder devastador que a violência possa ocupar na sociedade, principalmente quando tal sociedade está submetida a força de Thanatos e da psicopatia das pessoas que deveriam servir como representantes da lei pervertem a ordem, como bem aprofundou a Comentadora Giannina Paredes (Lima).

O segundo texto: “Violencia, ¿tendencia natural, acto perverso o pulsión de muerte?” de Fernando Anguiano González (Guadalajara) discorreu sobre o tema da violência física miscuída as questões socioeconômicas de seu pais. Alexandre Pantoja (Brasilia) capturou de forma brilhante as inquietações do autor, colocou a “psicanálise para trabalhar” e avançou focando a violência social ligada à um quantum excedente de agressividade que precisa encontrar um ambiente capaz de fornecer uma contenção institucional capaz de minimizar os efeitos destrutivos, o que não acontecendo, provocará dor, sofrimento e atuações perversas de grande monta. Partindo de uma discussão sobre o lugar de ‘fragilidade’ da pessoa agredida, Alexandre tomou-a como paradigma para debater o modelo sadomasoquista dos relacionamentos pessoais interligados a violência atuada pelos governantes ao adotarem uma postura omissa e/ou permissiva diante da agressividade descontrolada e fartamente encontrada em nossas sociedades ditas “pós-modernas”, onde as pessoas “abandonadas” caminham para o aumento do número de adoecimentos narcísico.

No texto “El cuerpo es el mensaje”, Johanna Mendoza (Lima) explanou sua hipótese ao compreender o corpo enquanto cenário de conflitos psíquicos, portadores de mensagens a cerca de sentimentos e emoções não representadas por meio de palavras e que literalmenre ganham espaço no corpo, como bem demonstram as tatuagens. Uma hipótese compartilhada nos comentários de Patricia Ochoa (Guadalajara).

Coube a Paula Escribens (Lima) e aos comentarios de Veridiana Canezin (Brasilia) dar conta de tratarem de um tema tão importante como “Cuerpos violentados: las mujeres como campo de batalla en los contextos de guerra”. Um trabalho impactante não só pelo horror revelado no relato, mas por provocar reflexões sobre os efeitos da violência política praticada contra as mulheres, violadas em seu corpo, seus direitos e em seu psiquismo, com a anuência de um estado omisso. Efeitos capazes de provocar marcar profundas e de alcançe transgeracional, como bem desvelou o referido trabalho.

As últimas apresentações sofreram interferências de ordem técnicas com a conexão da internet, prejudicando o acompanhamento de uma leitura simultânea, mas em nada ofuscou a importância dos temas e do rigor teórico que as autoras demonstraram em seus escritos.

Bastou ler os dois últimos trabalhos para se constatar a qualidade. “O direito de ter e possuir un corpo feminino”, escrito por Erika Reimann e Paola Amendoeira, comentado por Laura Martínez (Guadalajara), possui a marca da ousadia reservado aos psicanalistas de boa estirpe. O texto é fruto do efeito nas autoras, dos comentários com cunho sexual feitos por homens em relação à uma menina de doze anos várias mulheres se identificaram com ela e deram início a uma enorme enxurrada de denúncias de seus primeiros assédios”. As autoras sustentam que a “cultura do estupro” provoca nas pessoas assediadas uma violência traumática que não sendo escutada pode levar a vítima a se sentir responsável pelo vivido.

O evento fecha com as provocações do texto “Adolescente e o ato infraccional” de Cristina Brolhani (Brasil) e comentado por Luis Dávalos (Lima). Tratando de compreender os “aspectos intrapsíquicos relacionados às questões culturais na dinâmica de funcionamento do que chamamos de adolescentes infratores” a autora compreende o ato infracional ligado a um abandono que o jovem faz de seu ego ideal e o substitui pelo ideal do grupo, como uma corporificação na figura do líder e diz: “O membro de um grupo identifica-se com o líder e, em um segundo momento, com os outros membros do grupo”. Luiz amplia a discussão questionando se o comportamento trangressor é uma patologia ou sintoma de um mal estar social? Sobre o que está emocionalmente comprometido naquele que detém um comportamento transgressor e se devemos ver tal comportamento como destruição ou criatividade?

Foram muitas as provocações que esse encontro nos presenteou e terminamos o dia cheios de inquietações, desejosos de repetir a vivência calorosa, o clima amistoso com que transcorreu todo o encontro e certos de que a psicanálise e os psicanalistas teem muito a ganhar quando são provocados a pensar o vivo da escuta clínica para além das quarto paredes do gabinete.

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